O AMOR

"Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um.  O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo."
(Roland Barthes)



O amor no mundo contemporâneo

Na sociedade contemporânea, fala-se e escreve-se muito sobre sexo e quase nada sobre o amor.  Talvez seja pelo fato de que o amor, sendo um enigma, não se deixa decifrar, repelindo toda tentativa de classificação ou definição.  Por isso, a poesia, campo mítico por excelência, encontra na metáfora a compreensão melhor do amor.  Realmente, a literatura nunca deixou de falar do amor.
Talvez esse vazio conceitual se deva à dificuldade de expressão do amor no mundo contemporâneo.  O desenvolvimento dos centros urbanos criou o fenômeno da  "multidão solitária": as pessoas estão lado a lado, mas suas relações são de contiguidade, relações que dificilmente se aprofundam, sendo raro o encontro verdadeiro. Talvez o falar muito sobre sexo seja uma tentativa de camuflar a impessoalidade dessas relações, na medida em que o contato físico simula o encontro.
No entanto, não só as relações entre duas pessoas se acham empobrecidas.  O afrouxamento dos laços familiares - não importa aqui analisar as causas nem procurar a validade da situação - lançou as pessoas num mundo onde elas contam apenas consigo mesmas.  Mesmo que sejam válidas as críticas ao autoritarismo da família, este ainda é o lugar da possibilidade do afeto.  Além disso, o trabalho na sociedade capitalista, estimulado pela competição e pelo individualismo, exige um ritmo exaustivo, mesmo para os que têm melhores chances, e confina a maior parte das pessoas em um trabalho alienado, rotineiro, repetitivo, de onde é impossível extrair algum prazer.  Do ponto de vista da política, a situação também não é das mais reconfortantes.  Se considerarmos que todo regime autoritário subsiste em função da força e da opressão, o ambiente que daí decorre é de medo e ódio.  Eros* pertence à democracia, que se baseia no pressuposto da igualdade e da negação da exploração.  Tanatos (morte) é o domínio do autoritarismo.
*Figura mítica, cupido para os romanos, representa o Amor.

O encontro: a intersubjetividade
Ressaltamos que Eros é predominantemente desejo.  A força dessa energia que nos impuldiona a agir, a procurar o prazer e a alegria, nos faz questionar o princípio cartesiano de que o homem é um "ser pensante".  Não seria ele sobretudo um ser "pensante"?  Não seria o desejo aquilo que mobiliza o homem, e a razão o princípio organizador que hierarquiza os desejos e procura os meios para a sua realização?  Nesse sentido, não estamos querendo inverter o tema clássico da superioridade da razão sobre a paixão, mas mostrar que esses dois princípios estão indissoluvelmente ligados.
O que visa o desejo?  Numa célebre frase, Hegel diz: "Amar é estender o seu corpo em direção a um outro corpo; mas é também, mais fundamentalmente, exigir que esse corpo, que ele deseja, também se estenda; é desejar o desejo do outro."
Isso significa que o desejo supõe uma relação e que o que se deseja sobretudo é o reconhecimento do outro.  O amante não deseja se apropriar de uma coisa, ele deseja capturar a consciência do outro.

Referência:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia.São Paulo:Moderna, 1986.

Comentários

Unknown disse…
Só te digo uma coisa: O amor é lindo... razao do nosso viver e viver bem. bjs Berna
Adriana Felippe disse…
Berna, querida

...Então vamos amar!

Bjs

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