MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO ASSIS CHATEAUBRIAND - MASP

A história deste museu começa com dois grandes nomes: Francisco de Assis  Chateaubriand Bandeira de Melo e Pietro Maria Bardi.
Assis Chateaubriand (1892-1968), o "rei da comunicação", como era conhecido, foi jornalista, advogado, membro da Academia Brasileira de Letras e dono dos Diários Associados, um império midiático que incluía 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma editora, responsável pela publicação da revista O Cruzeiro, a mais lida entre 1930 e 1960.  A administração deste Império visava diminuir as distâncias do país, promover a integração das regiões brasileiras e suprir suas carências.  A ideia de criar um museu estava entre suas metas.  Menotti Del Picchia dizia: "Nele [Chateaubrinad], a vontade e a força são tão violentas que, no seu cérebro, 'imaginar' já é começar a realizar".
Bardi (1900-1999), italiano, que se dizia autodidata, antes de desembarcar no Brasil foi diretor da revista italiana O Quadrante, dono e diretor de galerias de arte, crítico de arte e marchand, além de antiquário.  Pietro desembarca no Brasil em 1946, acompanhado de sua esposa Lina Bo Bardi, arquiteta, o terceiro grande nome desta história.

O casal vinha apresentar a Exposição de Pintura Italiana Antiga, no Palácio Capanema, sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, organizada pelo Studio d'Arte Palma, dirigido por Bardi em Roma. Nessa exposição Bardi travou conhecimento com Chateaubriand e, poucos dias depois, recebeu a proposta de ser o futuro diretor do museu.  Chateaubriand tinha a ideia e a estratégia para a criação do museu.

Juntos escolheram a cidade de São Paulo como sede, por ser o estado com mais recursos financeiros, em função da indústria e do café.

A sede inicial se instalou no primeiro andar da nova sede dos Diários Associados na Rua Sete de Abril, nº 230, no velho centro da cidade, numa área de 1.000 m².  A responsável pelo projeto foi Lina Bo Bardi.  O espaço foi dividido em quatro áreas: pinacoteca, salas de exposições temporárias, de exposições didáticas de história da arte e auditório.  Essa divisão atendia a um projeto de museu inovador proposto por Bardi.
"É preciso conceber novos museus, fora dos limites estreitos e de prescrições da museologia tradicional: organismos em atividade, não com o fim estrito de informar, mas de instruir; não uma coleção passiva de coisas, mas uma exposição contínua e uma interpretação de civilização" (Bardi).  Um museu com função educativa, que, além de apresentar a arte e colocar o público em contato com o que se fez e o que se faz, tivesse o propósito de contribuir para a formação do gosto, não se restringindo às artes plásticas, mas abrangendo todas as artes numa abordagem interdisciplinar. 

O Museu de Arte de São Paulo foi inaugurado no dia 2 de outubro de 1947 com uma exposição pequena do acervo, porém expressiva, que já contava com um Picasso e um Rembrandt, entre outras obras doadas por Chateaubriand; uma exposição temporária, Série Bíblica de Cândido Portinari; e outra de Ernesto Fiori.
As viagens para a Europa em busca de novas aquisições eram constantes.  Bardi era responsável pela seleção e autenticidade das obras, e Chateaubriand pela compra, e na ausência deles Lina assumia na direção do Museu.

Em três anos, o MASP passou a ocupar mais três andares do edifício.  Lina Bo Bardi projetou a reforma.  O terceiro andar foi destinado à pinacoteca permanente, numa área sem divisórias, em que as obras foram colocadas em suportes sustentados por tirantes de aço.  Nas palavras de Bardi: "A sensação era de paredes flutuantes." O segundo andar foi reservado para as exposições periódicas, dois auditórios, biblioteca, laboratório fotográfico e o serviço interno.  A Escola ocupava o quarto e o décimo quinto andares.  A cerimônia de reinauguração contou com a presença do Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, de Nelson Rockfeller, do cineasta Henri Clousot, entre outras personalidades do mundo artístico, político e empresarial.

As escolas do Museu foram concebidas com o intuito de criar um centro dinâmico que abrangesse as diversas manifestações artísticas.

As aquisições continuaram por uma década, até 1957, favorecidas pelo excesso de ofertas no mercado em função do pós-Guerra.  Na chegada as obras eram "batizadas", exaltando os doadores em solenidades que contavam com a participação da alta sociedade.  Às vezes a comemoração acontecia no próprio cais do porto.  Nesse período o museu já era reconhecido internacionalmente e considerado o maior da América Latina.

Como muitos eram os boatos em torno da legitimidade das obras, Bardi, como estratégia, organizou uma mostra em Paris com parte do acervo, no Musée de L'Orangerie, ao lado do Louvre, De Mantegna a Picasso, em 1953, inaugurada pelo presidente francês Vincent Auriol.  A autenticidade das obras foi reconhecida e a mostra teve tal repercussão, que outros museus solicitaram a coleção, que seguiu por Londres, Utrecht, Bruxelas, Düsseldorf, Berna e Milão, e depois para Nova York.  Durante esse tempo, surgiram boas oportunidades para novas aquisições - quarenta obras foram então adquiridas, somando-se às sessenta e quatro que estavam em circulação.  Na passagem pelos Estados Unidos, as obras foram apreendidas em função da dívida das últimas compras.  Chateaubriand tentou inúmeros caminhos, conseguindo quitar metade da dívida, outra metade sendo resolvida em acordo com o governo brasileiro, na época, do presidente Juscelino Kubitschek; com o acordo, o fundador Assis Chateaubriand teve que abrir mão do comando do MASP, que foi outorgado à Associação Museu de Arte.

Na volta para o Brasil, em 1957, as obras foram exibidas no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Enquanto a exposição itinerante acontecia, no Brasil eram realizadas muitas exposições temporárias com artistas estrangeiros e nacionais, sistema inédito no país, entre elas a de Max Bill, Alexander Calder, Roberto Burle-Marx, Lasar Segall, Portinari e Anita Malfatti.  Os cursos e as atividades culturais se ampliavam.

Em poucos anos o espaço na Sete de Abril tornou-se novamente insuficiente, e Chateaubriand e Bardi saíram em busca de uma nova sede.  Foi quando surgiu a oportunidade na Avenida Paulista.  O terreno pertencia à Prefeitura de São Paulo com uma condição, imposta pro seu doador, Joaquim Eugênio de Lima: a de preservar a vista para o centro da cidade.

Este desafio coube a Lina Bo Bardi, e ela resolveu de forma magistral.  Entre o projeto e sua conclusão transcorreram-se quase 10 anos.  Uma obra arrojada, que hoje é um dos ícones da cidade: o vão livre, o maior do mundo até então, suspenso por quatro vigas de concreto a uma altura de 8,5 metros com 74 metros de comprimento e 10.000 m² de área total.  A ousadia do projeto contou com o processo do concreto protendido, desenvolvido pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, e com o cálculo estrutural de João Lourenço Castanho.

A inauguração aconteceu no dia 7 de novembro de 1968, passando o museu a se chamar Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, em homenagem ao seu fundador, morto meses antes da inauguração.  A Rainha Elizabeth II, que estava no Brasil em visita oficial, participou da cerimônia, assim como o governador Abreu Sodré e o prefeito Faria Lima, entre outros representantes da sociedade.

No ano seguinte, o acervo foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), tornando-o patrimônio histórico, e em 1982, o prédio, pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico).

O sistema de apresentação das pinturas da pinacoteca foi idealizado por Lina.  As obras eram expostas em lâminas de cristal temperado, dispostas em blocos de concreto transparente; no verso, os dados das obras com reproduções de outros trabalhos, conservando o caráter didático de apresentação.  A visibilidade desse espaço sem paredes permitia um diálogo atemporal entre as obras e uma combinação flexível, por se tratar de peças móveis.
Os contatos com o exterior intensificaram-se,  com muitas solicitações de empéstimos de obras para integrar mostras e intercâmbios com outros países, como Itália, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Japão, países da América Latina e da África.

Na nova sede foram realizadas constantemente exposições de artistas brasileiros, desde os novos valores até os consagrados.  Sempre preocupado com a integração das artes, Bardi diversificou as atividades do museu, contemplando todas as áreas artísticas, berm como as áreas correlatas.  Na comemoração dos vinte e cinco anos, foi realizada uma exposição de Pierre Bonnard e outra referente ao Cinquentenario da Semana de Arte Moderna de 22, reunindo um relevante material histórico.  No auditório eram apresentados concertos e recitais de grande abrangência.  Nessa época se inaugurou a Mostra Internacional de Cinema, evento de destaque até hoje na cidade de São Paulo.  Também se criou o Curso de Museologia, para atender uma deficiência do mercado nacional, e o Laboratório de Conservação e Restauro, ampliado na década de 90.  Percursor nas atividades didáticas, o MASP criou um programa especial para atender as escolas públicas.

A Biblioteca e Centro de Documentação, formada inicialmente pela doação do casal Bradi, desde então vem sendo ampliada com novas aquisições, intercâmbios entre instituições e elaboração de projetos, tornando-se uma das importantes referências para a pesquisa especializada.  No início da década de 90, passou por um processo de modernização, com o Projeto de Organização e Informatização do Acervo de Artes Plásticas do MASP, sob coordenação de Ivani Di Grazia Costa, desde 1981.

Nos anos 80 destacaram-se, entre as importantes exposições: Itália-Brasil, Karel Appel (integrante do Grupo CoBrA), Quatro Mestres Modernos: De Chirico, Ernst, Matisse e Miró, Expressionismo Alemão, Arte da Embalagem Tradicional do Japão, O Ouro da Colômbia, Pablo Picasso (com 360 obras, incluindo, a Suite Vollard), Le Corbusier (comemorando o cinquentenário do arquiteto), Gaudi e Miró, Tesouros do Kremlin e Itália ao Luar.
Nessa época o edifício apresentou problemas de infiltração de água e foi necessária uma reforma.  Em função disso, Bardi organizou uma exposição do acervo dividida em dois grupos: Da Rafaello a Goya... Da Van Gogh a Picasso e Da Manet a Toulouse-Lautrec.  A primeira foi apresentada em  Milão, Trento, Nápoles, Palermo e Bari.  A segunda, em Verona, Monza, Gênova, Palermo e Bari.  Nessa ocasião se realizou um extenso catálogo, organizado por Ettore Casemasca, historiador e estudioso do acervo do MASP.  Após a Itália, as obras seguiram para Suíça, Munique e Berlim, e finalmente algumas obras foram reunidas na mostra De Manet a Matisse, expostas no Gogh, de Amsterdã.  Na conclusão das obras de restauração, que ocorreu em 1990, as vigas foram pintadas em vermelho, por sugestão de Lina.  Nos anos 90, destaque para as exposições Albert Eckout e seu Tempo, a de gravuras de Edvard Munch, a Coleção Pirelli/MASP Fotografia (que é realizada anualmente até hoje), Grupo CoBrA e Lina Bo Bardi no MASP de Lina Bo, em homenagem à arquiteta, que faleceu em 91.  Artistas como Tomie Ohtake, Dalí e Caravaggio também estiveram entre as exposições realizadas.  Ao longo de todo esse tempo, o MASP promoveu  produção dos novos artistas brasileiros e divulgou os artistas consagrados.  Todas essas exposições contaram com a assistência de Luiz Hossaka, que trabalhou no MASP desde 1950 e hoje atua como curador-conservador-chefe.

Bardi atuou como diretor técnico até 1990; afastou-se nesta ocasião, tornando-se, em 1992, Presidente de Honra do museu, e nomeando Fábio Magalhães como conservador-chefe, que se afastou em 94; em seguida assumiu Luiz Marques, permanecendo por dois anos no cargo - depois, continuou atuando na área cultural.  Em 1993 o vão livre foi denominado Esplanada Lina Bo Bardi.  Pietro Maria Bardi faleceu em 1999.
Em 1996, com Julio Neves na presidência, realizou-se o Projeto de Revitalização, construindo-se um terceiro subsolo com 1.500 m² para abrigar a reserva técnica do acervo, da biblioteca e da fototeca, entre outras obras de manutenção e aprimoramento.
Na comemoração de seus 50 anos, com Luiz Hossaka como conservador-chefe, foram realizados concertos, simpósios e dezoito exposições, três delas baseadas no próprio acervo e quinze com obras cedidas por colecionadores e museus do Brasil e do exterior, com destaque para a mostra de Giorgio Morandi e Monet - O Mestre do Impressionismo, que bateu o recorde latino-americano de visitação na época.

Nesse tempo foi realizado o catálago do MASP, com organização de Luiz Marques, em quatro volumes, apresentando todo o acervo com informações sobre os artistas e as obras.  Integrando as comemorações, inaugurou-se o Serviço Educativo, com a coordenação de Paulo Portela, realizando visitas orientadas com e sem ateliê, visitas temáticas, assessoria para professores, encontros sobre história da arte e cursos de férias.
Essas atividades são desenvolvidas até hoje, contribuindo para o enriquecimento do ensino da arte em nosso país.

A Escola do MASP, atualmente com a coordenação de Silvia Meira, realiza cursos de historia da arte com renomados professores, cumprindo as determinações do projeto inicial do museu, de formar além de informar.

Na comemoração dos 60 anos do MASP realizaram-se quatro exposições temáticas do acervo, com a curadoria de Teixeira Coelho: As Quatro Estações de uma Coleção - A Arte do Mito, A Natureza das Coisas, Virtude e Aparência e Olhar e Ser Visto, com edição dos catálagos correspondentes a cada uma delas.  A história do Museu foi contada em Masp 60 anos - A História em Três Tempos, coordenado por Renato Magalhães Gouvêa.

EM 2008 houve uma nova edição em três volumes do catálogo geral do acervo, também organizado por Luiz Marques.

O acervo do museu (hoje coordenado por Eunice Moraes Sophia), na época de sua transferência para a Paulista, contava com 700 obras, e hoje tem 8.000 obras, conquistadas por meio de doações de instituições, empresários e artistas.

Eugênia Gorini Esmeraldo é outro nome integrante desta história.  Trabalhando no museu desde 1978, atuou como assistente de Bardi e hoje é coordenadora de Intercâmbio. 

Atualmente, a presidência está a cargo de João da Cruz Vicente de Azevedo, e o museu continua fiel às determinações de sua fundação, com uma programação dinâmica que abrange todas as linguagens artísticas.
A pesquisa para este texto contou com o apoio de Ivani Di Grazia Costa, coordenadora da Biblioteca, e as fontes básicas foram os catálogos do acervo do museu, além da História do MASP, de autoria de P. M. Bardi. Para a seleção das obras contou-se com a participação de Eunice Moares Sophia, coordenadora do acervo.
fonte: (Coleção Folha grandes museus do mundo; v.8)

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