IDENTIDADE CLANDESTINA

Sem querer, o dedo de Werther toca o dedo de Charlotte, seus pés, sob a mesa, se encontram. Werther poderia se abstrair do sentido desses acasos; poderia se concentrar corporalmente sobre essas fracas zonas de contato e gozar esse pedaço de dedo ou de pé inerte, de um modo fetichista, sem se preocupar com a resposta.  Mas precisamente: Werther é perverso, ele está apaixonado: cria sentido, sempre, em toda a parte, de coisa alguma, e é o sentido que o faz ficar arrepiado; ele está no braseiro do sentido.  Todo contato, para o enamorado, coloca a questão da resposta: pede-se à pele que responda.
(Pressão de mãos - imenso dossiê romanesco -, gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no encosto de um sofá e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisíaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido.)
(...) Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um.  O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo.
                                                                                 (Roland Barthes)

Coisas de Épiphanie: festa do sentido.



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