TODO MUNDO FOI ESTRELA UM DIA
Os elementos que formam a Terra vieram do Big Bang, a explosão que
deu origem ao Universo, e das estrelas.
Depois do Big Bang, uma infinidade de átomos de hélio (He) e
hidrogênio (H) ficou boiando no espaço.
A gravidade primeiro uniu os átomos, formando as estrelas. Depois,
fundiu-os até produzirem novos tipos de átomos.
Com o tempo, as estrelas explodiram, lançaram os novos elementos
químicos no espaço e viraram outros corpos celestes.
A nuvem de átomos ficou solta no espaço até que a gravidade
juntou-os novamente.
A união dos vários elementos formou o Sistema Solar. A Terra e
tudo o que está sobre ela, inclusive você, é resultado da fusão disso tudo.
Revista Superinteressante, março 1998. Edição 126
Se o outro não olhar eu não existo; quero ser visto para
existir.
Sério mesmo? Na Era do Aparecer a tirania da visibilidade cria uma
série de inconveniências: excesso de (des) informação, incapacidade de pensar e
promove a exteriorização da brutalidade.
Sobreviver nesse mundo de brutos não tem sido tarefa fácil.
Já nem entro na discussão sobre o que há de relevante para minha existência
saber que a fulana de tal toma suco de limão todos os dias para ter uma barriga
chapada (isso pode ser relevante, até gosto de shape – naturalmente - bem cuidado) grotesco mesmo é um canal que
se diz livre – promover em redes sociais selfie da beldade fazendo biquinho e exibindo
sua photoshopchapada barriga graças-ao-suco-de-limão.
Parabéns: comunicando (o que
e para quem?) para empoderar... Me traz o penico – esmaltado com laço de cetim,
porque não vomito em qualquer penico - preciso vomitar...
Mais uma vez: nada contra barriga chapada ou barriga negativa ou puxação de ferro, nada contra. Veja bem, não é militância contra, mas vou explicar: a garota chapou a barriga, não apenas tomando suco de limão mas no mínimo 3 horas diárias – puxando muito ferro e deixando de comer gostosuras –
dentre elas tortas de limão.
É um estilo de vida. Vive-se pra isso: pra cuidar do corpo, ganhar visibilidade, ganhar dinheiro, gastar o dinheiro que ganha para cuidar do corpo, para ganhar visibilidade. Apenas isso. Ótimo, siga em frente, mas essa é a vida que ela quis, não significa que todas as mulheres queiram... Um belo abdômen até que é bacana, rende assédio masculino, zilhoes de curtidas no instagram e...
No “artigo” até pode constar os treinos e todos os procedimentos
diários, todas as restrições alimentares, mas não é esse o ponto.
A questão aqui é: como viemos parar nesse beco
sem saída. Se a pergunta era: - “Quem é
que paga pra gente ficar assim?” – na era da transparência só não enxerga quem está
muito preocupado em procurar padrões para seguir.
O MinC paga – com nossa grana - R$4,1 milhões para turnê do... (como é mesmo o
nome daquele?) com a proposta de “
promover acesso a entretenimento musical de qualidade”. Até poderia, desde que fosse realmente de
qualidade. Isso é no mínimo
constrangedor. O Brasil possui inúmeros
músicos competentes e que estudaram anos para tocarem nos metrôs por alguns
trocados e sobrevivem de sua arte.
Isso mesmo. Nossas políticas públicas funcionam com uma
única diretriz: não é pra funcionar; entorpeçam, entorpeçam, entorpeçam.
Novelas venderem esmaltes não é problema, problema é a internet intque poderia ser um veículo tão “livre”
para fomentar conhecimento e até entretenimento de qualidade, virar vitrine e
formadora de comportamento oco. O
império da bestialidade é perverso: impede que pessoas dediquem-se ao
autoconhecimento; isso exige esforço e todo o esforço aqui é destinado a seguir
vidas que muito provavelmente fazem um terrível esforço para parecerem
interessantes, que por sua vez causam depressão em quem não tem meios para
decodificar esse mecanismo e tédio, angústia e melancolia em quem tem
sensibilidade para perceber a perfeita inutilidade disso tudo; exatamente como
A Náusea de Jean Paul Sartre. Como
sobrevivo? Graças ao meu – precioso -penico.
Pensamentos deixam de ser construídos, diálogos inexistem,
relações são esvaziadas e consequentemente modificações não ocorrem. Era do Torpor, quase um déjà vu (sensação de já ter visto isso lá no sec XIX, China).
Humor negro, acidez a parte. Essa é uma conversa que renderia um
mestrado. E rendeu várias premiações ao
diretor Alejandro González pelo brilhante e tenso Birdman ou (A Inesperada
Virtude da Ignorância). No diálogo
memorável de Riggan que outrora foi uma celebridade e agora sobrevive num
conflituoso ambiente de frustração e inconformidade com sua própria decadência –
na minha opinião, a melhor cena – ele descreve a angústia e preocupação ao
estar no mesmo voo que George Clooney: que melancolia desesperadora! Durante
toda a viagem é perturbado pela ideia da iminente queda do avião. Se isso ocorresse era a cara de Clooney, com
seu queixo - esculturalmente - quadrado que apareceria nas primeiras páginas
dos jornais.
Neste momento sou incitada a intervir: relaxa Riggan, TODO MUNDO FOI ESTRELA UM DIA e um dia todos seremos adubo.
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