A Cura pela Arte
Óleo sobre tela, 1997. Estudo feito pelo pintor Dangon tendo como referência Leonardo Da Vinci, Madona das Rochas de 1483-1486
Meu primeiro professor. Tive a sorte de iniciar com alguém muito talentoso e exigente. Eu já amava a arte; Dangon ensinou-me a humildade. Em seu ateliê, aprendi - antes de técnicas, harmonia de cores, pigmentos - a respeitar o ofício. Aprendi que a arte é um trabalho como qualquer outro e por isso mesmo exige devoção, dedicação, estudo. Antes da ação, a alma. Não existe arte sem técnica; não existe arte sem poética. É preciso ter domínio de uma linguagem para que a sensibilidade seja materializada.
O Ex Beatle Paul McCartney disse que a música é capaz de curar. Eu digo que a boa arte, qualquer que seja, alivia as dores da alma e estimula a evolução do ser humano.
A arte é atividade humana compreendida como uma manifestação de ordem estética, feita por pessoas que qualificamos de artistas, que produzem a sua arte a partir de idéias, percepções e modeladas pelos requintes da sensibilidade e emoção.
De todas as criações humanas a arte é a mais subjetiva. Ela é o nada e o tudo. Ela vai do lixo ao luxo. A arte depende da época, da sensibilidade do indivíduo e do povo. Muitas obras, que hoje tem grande valor artístico, ficaram guardadas em porões, escondidas no ostracismo do tempo até serem redescobertas.
Uma obra de arte não pertence ao artista que a criou, ele goza de direitos temporários sobre a mesma. A boa, a verdadeira obra de arte pertence à humanidade. Por isso, uma obra ganha mais valor quando ela se torna de domínio público. Uma grande obra de arte nas mãos de um rico colecionador é um desrespeito a humanidade, nesse caso, ela somente serve para alimentar o ego de uma pessoa pobre de espírito.
E o ser humano passa um terço da vida dormindo, um terço trabalhando e o outro terço dividido entre alimentação, higiene, dedicação a casa e a família e se “distraindo”. Essa “distração” nada mais é do que a busca de um porto seguro para a sua alma inquieta, revolta e faminta.
Grande parte da “distração” passa pelo consumo da arte. E a arte mais consumida é aquela que é oferecida a baixo custo, devido ao fato que, na sociedade atual, nada é de graça. Uma obra pobre, enlatada, parcialmente digerida, cuja única arte é o rótulo, é oferecida e consumida com avidez pelo público. Essa “coisa” consumida como arte tem como função entreter o povo e fazer o tempo passar. Entreter com o intuito de fazer o tempo passar é o mesmo que alienar.
A arte e a educação são irmãs gêmeas e caminham juntas. A educação não faz do ser humano um artista, mas, refina a sua sensibilidade. Para um indivíduo de sensibilidade refinada a arte vai além de entreter e de fazer o tempo passar.
A verdadeira arte cura os males da alma e liberta o ser humano dos grilhões da ignorância. A pior doença da sociedade é a ignorância. O melhor remédio para esse terrível mal é uma arte de boa qualidade e uma educação voltada para o ser humano.
Texto de Roberto Pelegrino
José Roberto Pelegrino é médico com especialização em geriatria.
Este texto belíssimo merece ser lido, saboreado e digerido, transformando-se em nutrição ao nosso espírito.
Para mim a Arte cura, modifica, transforma, eleva, ilumina, salva. Apenas sentindo é possível entender. No menu de hoje, ofereço Adagio, por Il Divo.
Abraço grande, até a próxima.
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