ORAÇÃO EM TEMPO DE DIFICULDADE


"A Alemanha passava por drásticas transformações com a ascensão ao poder dos nacional-socialistas.  Em 1931, quando Klee trocou a Bauhaus pela Academia de Artes de Düsseldorf, ele comentava sobre a realidade política em cartas para a esposa.  Detestava Hitler, sua demagogia primitiva e a avidez populista pelo poder.  A 'revolução nacional-socialista' foi por ele comentada com um traço enérgico, numa série de 250 desenhos figurativos a lápis.  Encontramos poucas referências diretas ao nacional-socialismo nos títulos das ilustrações de 1932 e 1933.  Mesmo assim, Klee fazia alusões à atmosfera violenta e ameaçadora que no Natal de 1933 o obrigou a emigrar para a Suiça".  PAUL KLEE | EQUILÍBRIO INSTÁVEL - CCBB SÃO PAULO


De tudo o que vi e o que senti nessa - providencial - exposição, o que fica é a resposta para : Para quê serve a arte?  Essa resposta é construída através do diálogo que mantive com a funcionária  do CCBB, no 2o. andar, enquanto esperava minha vez para adentrar a sala da exposição.  Todas as obras estão expostas em salas-frigoríficos.  Esse é o preço a pagar para estar diante de obras tão únicas e importantes para a humanidade.  São frágeis demais.  A funcionária explicou-me que é preciso mantê-las em ambiente suficientemente adequado para preservá-las, portanto é solicitado a cada grupo que não abra as duas portas do recinto ao mesmo tempo.  Questão técnica, mas mais que isso questão de respeito  (não com o artista, mas com a humanidade).  Mas o que fica para maioria das pessoas que visitam a exposição é a "frescura", não no sentido de frescor ou frio, mas enjoamento, esnobismo.  "Pra quê essa frescura?" perguntam centenas de vezes, diariamente, à funcionária.

A exposição tem dez recortes que representam muito bem as transições de Klee.  Como é bonito ver os desenhos de infância, seus estudos da natureza e as réplicas de seus fantoches...

Mas o que fica é a resposta para quê serve a arte?  Diante de A Última Natureza Morta, a pensar em minha conversa com a funcionária e como Klee disse "a arte não reproduz o visível, ela torna visível".

O que fica é que a arte, talvez, seja o único meio de evitar novas demagogias.  Mas se essa assimilação ainda não é possível, o que resta é mesmo GEBET IN DER NOT, 1939 (está lá, na sala DESENHANDO A REALIDADE).  Se preservar a arte é frescura (no sentido frívolo), o que pensar sobre o diálogo entre Klee em GEBET IN DER NOT,  Goya em OS FUZILAMENTOS DE 3 DE MAIO DE 1808 e Picasso em GUERNICA ?

  • Ohne Titel (Letztes Stilleben), 1940 A ÚLTIMA NATUREZA-MORTA

PAUL KLEE | EQUILÍBRIO INSTÁVEL
CCBB - São Paulo
13 FEV a 29 ABR 2019

HORÁRIOS BILHETARIA
Quarta a Segunda  - 9h00 às 21h00



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