TO BE OR NOT TO BE
SER, ESTAR, PERMANECER, FICAR
Na consciência da efemeridade o essencial é perpetuado.
Ophélia, 1889. John William Waterhouse. Óleo s/tela. Coleção Privada. |
Presença Ausente, 2014. "(...)Ofélia gentil! Ninfa, em tuas orações sejam sempre lembrados meus pecados." Hamlet |
Ato III, cena I
Elsinor, na sala do castelo
HAMLET – “Ser ou não ser, eis a questão.Será mais nobre sofrer na almaPedradas e flechadas do destino ferozOu pegar em armas contra o mar de angústiasE, combatendo-o, dar-lhe fim?Morrer; dormir;Só isso. E com o sono – dizem – extinguirDores do coração e as mil mazelas naturaisA que a carne é sujeita; eis uma consumaçãoArdentemente desejável. Morrer, dormir…Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!Os sonhos que hão de vir no sono da morteQuando tivermos escapado ao tumulto vitalNos obrigam a hesitar: e é essa reflexãoQue dá à desventura uma vida tão longa.Pois quem suportaria o açoitee os insultos do mundo,A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,As pontadas do amor humilhado,as delongas da lei,A prepotência do mando, e o achincalheQue o mérito paciente recebe dos inúteis,Podendo, ele próprio, encontrar seu repousoCom um simples punhal?Quem agüentaria fardos,Gemendo e suando numa vida servil,Senão, porque o terror de algumacoisa após a morte –O país não descoberto, de cujos confinsJamais voltou nenhum viajantenos confunde a vontade,Nos faz preferir e suportar males que já temos,A fugirmos para outros que desconhecemos?E assim a reflexão faz todos nós covardes.E assim o matiz natural da decisãoSe transforma no doentio pálido do pensamento.E empreitadas de vigor e coragem,Refletidas demais, saem de seu caminho,Perdem o nome de ação.”(Tradução de Millôr Fernandes)
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