O BANQUETE: o prazer de sentar à "mesa" com gente querida

"A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo." (Merleau-Ponty)

Relaciono-me, logo existo.  Ontem fizemos a terceira e última edição de O Banquete e sinto-me nutrida e também degustada. Nas interações, nas trocas de pensamentos novas interações e pensamentos são oferecidos; O Banquete é um lugar de nutrição-degustação, de construção, de afeto.

tête-à-tête, olho-no-olho no Café & Arte
O que é isto - a filosofia?

Os pensadores gregos, Platão e Aristóteles, chamaram a atenção para o fato de que a filosofia e o filosofar fazem parte de uma dimensão do homem, que designamos dis-posição (no sentido de uma tonalidade afetiva que nos harmoniza e nos convoca por um apelo).
Platão diz: (...) "É verdadeiramente de um filósofo este páthos - o espanto; pois não há outra origem imperante da filosofia que este".
O espanto é, enquanto páthos, a arkhé da filosofia. Devemos compreender, em seu pleno sentido, a palavra grega arkhé. Designa aquilo de onde algo surge. Mas este "de onde" não é deixado para trás no sugir; antes,  a arkhé torna-se aquilo que é expresso pelo verbo arkhein,o que impera. O páthos do espanto não está simplesmente no começo da filosofia, como, por exemplo, o lavar das mãos precede a operação do cirurgião. O espanto carrega a filosofia e impera em seu interior.
Aristóteles diz o mesmo: (...) "Pelo espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente à origem imperante do filosofar" (àquilo de onde nasce o filosofar e que constantemente determina sua marcha).
Seria muito superficial e, sobretudo, uma atitude mental pouco grega se quiséssemos pensar que Platão e Aristóteles, apenas constatam que o espanto é a causa do filosofar. Se esta fosse a opinião deles, então diriam: um belo dia os homens se espantaram, a saber, sobre o ente e sobre o fato de ele ser e de que ele seja. Impelidos por este espanto, começaram eles a filosofar. Tão logo a filosofia se pôs em marcha, tornou-se o espanto supérfluo como impulso, desaparecendo por isso.  Pôde desaparecer já que fora apenas um estímulo.  Entretanto: o espanto é arkhé - ele perpassa qualquer passo da filosofia. O espanto é páthos. Traduzimos habitualmente páthos por paixão, turbilhão afetivo. Mas páthos remonta a páskhein, sofrer, aguentar, suportar, tolerar, deixar-se levar por, deixar-se con-vocar por. É ousado, como sempre em tais casos, traduzir páthos por dis-posição, palavra com que procuramos expressar uma tonalidade de humor que nos harmoniza e nos con-voca por um apelo.  Devemos, todavia, ousar esta tradução porque só ela nos impede de representarmos páthos como dis-posição (dis-position) podemos também caracterizar melhor o thaumázein, o espanto. No espanto detemo-nos (être en arrêt). É como se retrocedêssemos diante do ente pelo fato de ser e de ser assim e não de outra maneira.  O espanto também não se esgota neste retroceder diante do ser do ente, mas no próprio ato de retroceder e manter-se em suspenso é ao mesmo tempo atraído e como que fascinado por aquilo diante do que recua.  Assim o espanto é a dis-posição na qual e para a qual o ser do ente se abre. O espanto é a dis-posição em meio  à qual estava garantia para os filósofos gregos a correspondência ao ser do ente.

(Heidegger, O que é isso - a filosofia?, in Col. Os Pensadores,
São Paulo, Abril Cultural, 1973, p.219.) 
O espanto... um dos temperos oferecidos por esse O BANQUETE.  O espanto despertado pela experiência estética do sublime: o Pôr-do-Sol, os Campos de Lavanda no O Lavandário, a exuberância da Mata Atlântica.  O espanto pela apreciação dessa paisagem que transforma, porém como Heidegger nos lembra que "espanto é a dis-posição na qual e para a qual o ser do ente se abre" e aí subverto: qual é a paisagem que o Sol, a Mata, os Campos de Lavanda vislumbram a partir da minha presença?

O Lavandário
O BANQUETE É uma ação em arte/educação.

Comentários

Postagens mais visitadas