Koetsu, O Mestre da Renascença Japonesa

  
Quem é Koetsu?
(Honnami Koetsu, 1558-1637)
Koetsu nasceu em uma alta classe de mercadores e praticava a tradição familiar de polimento, afiação e feitio de espadas.  Como artista, ele desenvolveu-se em vários meios, incluindo caligrafia, cerâmica e laqueação.  Ele foi aclamado como um dos três mestres calígrafos de período Kan’ei (1624-1644).  Foi comparado a Leonardo Da Vinci, por sua versatilidade.  Ele poderia ser descrito como um “diretor de arte” por excelência.  Colaborou com inúmeros artistas de sua época fazendo respirar uma nova vida nos formatos tradicionais existentes.  Assim como Da Vinci, foi multitalentoso e um irrepreensível gênio que inspirou seus contemporâneos como Sotatsu, Kourin e Kenzan e exerceu profunda influência em todas as gerações seguintes.  As artes de Koetsu combinavam beleza com praticidade, portanto poderiam se usadas e manuseadas.  São consideradas Tesouro Nacional, no Japão.
Koetsu e o Chá
O chá foi popularizado no Japão no século XII pelo monge budista japonês Eisai (1141-1215).  Ele trouxe a tradição da China.  Monges budistas chineses consideravam o chá como uma medicina.  Bebiam chá para ficarem despertos durante as longas sessões de meditação.  Fisher exemplifica, “O japonês facilmente combina os ideais do Zen Budismo, como a simplicidade e o respeito, com o amor próprio e com a natureza para criar um ritual único em sua cultura. Originalmente executado por monges e amadores, a cerimônia japonesa do chá torna-se um complicado e formal ritual que reflete a alta estrutura de uma sociedade feudal.  Isso eventualmente deu ascensão profissional aos considerados “Mestres do Chá”, que eram conhecedores de todas as artes e serviam como assessores políticos, culturais e militares.  A Cerimônia do Chá é praticada no Japão hoje em dia assim como tem sido por séculos.  Os participantes cultivavam uma atmosfera de harmonia, pureza, simplicidade e respeito.  O Museu da Filadélfia mantém como destaque uma coleção permanente de A Arte da Cerimônia do Chá Japonesa.  Foi produzida em 1917 e levada para o museu em 1928, incorporando a austeridade e simplicidade do cerimonial.
Koetsu foi envolvido ativamente no mundo do chá.  Toda sua vida é credenciada por ter estudado com Furuta Oribe, um dos pioneiros na criação de variantes na cerimônia do chá.  Isso foi durante seus anos em Takahamine onde começou a fazer suas próprias xícaras, tornando-se mestre da cerâmica.


Xícaras produzidas por Koetsu, sec. XVII, técnica rakuyaki

Koetsu na atualidade
Uma das características da tradicional arte japonesa está na habilidade do manuseio.  No museu de Arte Moderna, visitantes não tem a oportunidade de manusear uma xícara de chá ou o desenrolar de um traçado de caligrafia.  O propósito da exibição intitulada “AS ARTES DE HONNAMI KOETSU, O MESTRE DA RENASCENÇA JAPONESA”, em 2000 é educar e comunicar a beleza da caligrafia, da laqueação e das cerâmicas.



Caixa de escrita em laca com desenho de cervo
Por essas razões, foram utilizados os mais modernos recursos multimídia para introduzir o público contemporâneo à experiência de apreciar a arte japonesa.  A informática ajudou a traduzir a experiência de segurar uma xícara de chá ou o desenrolar de uma caligrafia e ouvir um poema recitado.

Poemas montados em rolo
 A multimídia e seus programas desenvolvidos pela Academia Internacional de Meios Artísticos e Ciências, em cooperação com o Museu de Arte da Filadélfia, proporcionou ao público americano uma nova apreciação do legado cultural japonês, onde tiveram a rara oportunidade de ver exemplos de trabalhos de Koetsu.
Vista frontal do Museu de Arte da Filadélfia
Foram exibidos mais de cem objetos de cerâmica e laqueados, obtidos de colecionadores do Japão, Europa e Estados Unidos. O projeto refere-se ao resgate da arte japonesa em seu formato original, ou seja, a recuperação da herança cultural por meio de tecnologia. Foi utilizado um scanner de última geração para digitalizar um pergaminho raro de 30 metros, com 36 poemas de Koetsu, em várias estações multimídia. Os visitantes puderam experimentar a famosa obra "Sanjurokkasen" (Trinta e Seis Poetas Imortais), movimentando os desenhos das garças e ouvindo poemas cantados.
O pequeno jardim do templo Koetsu-ji (Quioto), aqui residiu Honnami Koetsu
Koetsu por Mokiti Okada
Escritor e artesão sem par.  O seu talento em relação ao Belo é incomparavelmente original; suas obras abrangem makiê (pintura em laca), rakuyaki (cerâmica moldada a mão), shô (caligrafia) e poucas pinturas.  Sem dúvida, os traços inovadores e os materiais novos introduzidos por ele, fizeram com que as pessoas da época ficassem deveras impressionadas.  Koetsu criou um estilo revolucionário de pintura que manifesta senso peculiar japonês, rompendo magnificamente o obstáculo da pintura japonesa que até então não conseguia se libertar de forma alguma da pintura chinesa tradicional.
Considerações Finais
Absolutamente envolvente, desperta o desejo em apreciar com maior atenção uma caligrafia.  Koetsu foi muito habilidoso em sua arte, mas sobretudo sensível. É possível perceber isso em sua Caixa de Escrita, laqueada.
E é bastante animador a ênfase que o Museu da Filadélfia deu à exposição.  Unir a delicadeza do trabalho de Koetsu aos recursos tecnológicos, demonstra no mínimo, respeito com sua arte, pois ao público foi possível perceber além do objeto; o "papel" que a xícara exposta desempenha dentro de uma cerimônia.  A forma correta de manusear, enfim todo o ritual que envolve uma Cerimônia do Chá.
Após essa surpreendente pesquisa fica a indagação: Koetsu foi tão genial e talentoso, comparado a Leonardo Da Vinci, por que permanece desconhecido no Ocidente?  Seu legado inspirou, colaborou e ajudou outros artistas a acharem seu caminho; porém a falta de divulgação de seu nome no Ocidente deve-se justamente a sua arte que lhe deu o título de mestre: a caligrafia.  A lógica do pensamento Ocidental é muito diferente do Oriental.  Enquanto que para nós (ocidentais) comunicarmos que estamos indo à praia é necessário grafar todas as vogais e consoantes, para a caligrafia oriental bastam muitas vezes, alguns traços, que significam “caminho do mar”.  São representações gráficas de ideias (ideogramas).  A riqueza de expressão de um ideograma quando pincelado, poderá de uma só ideia gráfica elevar-se a emoção de um poema, dependendo de quem produziu esta caligrafia.  Neste caso, Koetsu era mestre, pois conseguia transmitir sentimento através de sua caligrafia.
Pintado por Tawarya Sotatsu; caligrafia de Koetsu, sec. XVII
Para saber mais:


Comentários

Patricia Santos disse…
Adrina, Parabéns e muito obrigada!

Muito atraente e Bela a maneira como você apresentou a Cerimônia do Chá, e o mestre Koetsu. Fiquei encantada com a Beleza e as explicações. Foi uma viagem maravilhosa.

Obrigada !!!

Patricia
Anônimo disse…
O blog esta demais...Parabéns bj...
Adriana Felippe disse…
Paty,

Sou eu quem agradece! Escrever é maravilhoso, muito terapêutico e saber que há quem aprecie, aí do outro lado, pode ser a cura!
Quem escreve os males espanta!
Vamos escrever...
Bjão e linda semana.
Adriana Felippe disse…
Oi, oi...

Muito grata por sua visita!
Boa semana!
Bjs,
Unknown disse…
Parabéns pelo artigo Adri!
Simples e tocante!
Beijos!
Adriana Felippe disse…
Rodrigo, quanta saudade!

Sou eu quem agradece sua apreciação. Logo estará de volta e poderemos falar bastante sobre Koetsu.
gde. abraço,

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